Roteiro para Sermão

15/05/2011 14:39

Roteiro do Sermão

  1. Introdução
  2. A Teoria e a Teologia da Pregação
  3. O Que é um Sermão Monólogo
  4. Vantagens e Desvantagens do Sermão Monólogo
  5. Passos na Preparação do Sermão Monólogo
  6. Como e Onde Usar o Sermão Monólogo
  7. Exemplos de Sermões Monólogos

8. Referências Bibliográficas

Introdução

 

     Tenho saudades de um tempo em que nem mesmo sonhei ou vivi. Falo do tempo em que o espírito profético se apoderava de homens distintos, e estes por suas bocas assumiam a missão desafiadora, denunciadora de seu proclamar alvissareiro ou fatídico. Não quero, porém, levantar uma bandeira de saudosismo ou utopia; preocupo-me tão somente com a realidade de meu povo, do meu tempo e da minha igreja. Esta conjuntura desconexa, complicada e até mesmo desgovernada. Falo de um tempo de dores, mãos ressequidas, terra desolada, sede de Deus, sede de justiça. Falo de um povo brasileiro que é cheio de fé, de fibra e de coragem, povo meu, pátria minha, gente nossa. 

     Tenho saudades, e neste contexto sentimental clamo a Deus que derrame em cada coração pastoral este espírito profético de modo que não cessemos de falar por aqueles sem voz, sem rumo, sem paz, sem terra, sem pão. E como numa prece diuturna derramo a minha alma pedindo a IAHWEH que me conceda a oportunidade de ver em mim como também na vida de tantos outros profetas deste solo brasileiro o Dom da Profecia. Tenho saudades de homens que lêem o presente compreendendo o sentido profundo da palavra de Deus, no contexto histórico que Deus os chamou para serem testemunhas. Comprometidos somente com o que Deus tem para oferecer mediante a necessidade do povo. 

     Tenho saudades de homens livres, descondicionados dos oportunismos, sem qualquer apego ou relações diplomáticas. Desvinculados de quaisquer interesses que possam servir de empecilho ou motivo para terem suas bocas fechadas. Homens que não têm medo de que suas cabeças estejam a prêmio ou que sejam servidas em bandejas. Não dados ao superficialismo, ao medo e nem tampouco preocupados com os conformistas que os julguem rebeldes. Falo de homens apregoadores da mesma liberdade que possuem. Tenho saudades de homens que escandalizem a hipocrisia religiosa de nosso tempo. Homens que provoquem crises nas instituições desordenadas, homens que elevem sua voz em nome do amor, da paz e da justiça divina. Homens que tenham autoridade de Deus e que sejam capazes de clamar altissonantemente contra todos os escândalos. 

     Tenho saudades de homens que sabem ficar quietos. Homens que não jogam palavras ao vento, não falam à toa. Reduzem ao essencial as suas intervenções e o seu silêncio se torna tão inquietador quanto os seus discursos. Homens comprometidos com a Palavra divina e com os efeitos que ela provoca. “Bocas de IAHWEH”. Tenho saudades de homens que observam os fatos e deixam que a sua proclamação nasça desta sincera contemplação. Homens contemplativos honestamente comprometidos com a causa que, por sua vontade, em consonância com os desígnios de Deus, abraçaram. Homens dedicados à oração e este contato fidedigno tornar-se-á um canal ilimitado de bênçãos e de proclamações reais para um tempo que se chama hoje. 

     Como ministros batistas brasileiros militantes ou aspirantes, precisamos nos preocupar em incorporar este espírito profético tão necessário hoje como nos tempos idos do povo de Israel. Como, também, se faz necessário marcharmos em busca da implantação do reino de Deus em cada agreste, beco ou viela, denunciando a dor, a fome, a injustiça, a opressão, a imoralidade, e exaltando o nome sobremodo excelente de Deus, o Senhor da criação, justo em sua essência. Senhor, tenho saudades dos profetas. Homens humildes, alguns boieiros e lavradores, homens sinceros, corajosos, destemidos. Falo de Isaías, Ageu, Habacuque, Sofonias, Daniel, Naum, Oséias, Amós, e tantos outros que tu usaste na intenção de comunicar os teus desejos. Faze, ó Senhor, que João, Antônio, Ricardo, Joaquim, Carlos, e tantos outros de nosso tempo vivam como reais “Bocas de Iahweh”! Amém! 
 
 Capítulo 2

 A Teoria e a Teologia da Pregação

A – A Arte de Pregar

 

     O pregador é um porta-voz de Deus entre os homens. Percebe-se no seio de nosso Brasil batista um certo descontentamento no que diz respeito à qualidade das mensagens e sermões proclamados. Há algum tempo ouço reclamações de que muitos pregadores proferem discursos cansativos e monótonos ou até mesmo, pela falta do que falar gastam todo o tempo desenvolvendo-se na arte de contar estórias e anedotas. Esta situação, que é agravante, obriga aqueles que se preocupam com a arte de pregar a pensarem em alguns recursos essenciais para a proclamação eficiente da mensagem do Evangelho. 

I – Um Primeiro Recurso Para uma Proclamação Eficaz é Conhecer a Mente de Deus. 

       O pregador é aquele que conhece a mente de Deus. A arte da homilética ou o ato de saber fazer um sermão não torna o pregador um porta-voz de Deus. A pregação não é algo que se faz ou se prepara no dia anterior. O pregador pode conhecer a mente de Deus através da comunhão com Ele. Esta comunhão implica andar com Deus, ter o companheirismo com o Senhor, manter uma intimidade com Ele, sondá-lo através da oração sincera e efetiva. 

       O pregador pode conhecer a mente de Deus através de uma vida de meditação. Para os ocidentais é muito difícil a prática da meditação. Meditar então é um verdadeiro desafio para a proclamação eficaz, pois grandes são as obras e as realizações divinas. A meditação é uma disciplina devocional que exige, e muito, dos pregadores, mas que lhes proporciona momentos de intensa inspiração e recursos fantásticos para a proclamação da mensagem. Pois da contemplação surgem idéias e considerações profundas acerca das verdades bíblicas e de seus ensinos. Quando começamos a meditar iniciamos um melhor conhecimento de Deus, de seus desejos e de sua mente. 

       O pregador pode conhecer a mente de Deus através de uma vida de estudo e pesquisa sobre a Palavra de Deus. As pessoas não querem ouvir suas opiniões sobre os vários assuntos ou temas possíveis. Elas querem ouvir Deus falar através do pregador. A Palavra deve ser lançada sobre o povo e nunca voltará vazia. O pregador poderoso nas Escrituras tem às mãos excelente equipamento de trabalho. A essência e centro das Escrituras é Cristo, e  a proclamação baseada no bom conhecimento da mente de Deus é poderosa e cristocêntrica. O pregador deve ser fortalecido no conhecimento da Palavra de Deus, e isto depende de pesquisa, estudos e muita reflexão. O conhecimento apurado da mente de Deus, faz com que a mensagem seja bibliocêntrica e, desta forma, pela sua inerrância, isenta os pregadores de correrem o risco de se apoiarem em argumentos infundados. 
 

II – Um Segundo Recurso Para uma Proclamação Eficaz é Estar Cheio do Espírito Santo de Deus. 

       A questão do Espírito Santo precisa ser entendida de modo que como profeta você não oprima ou limite à atuação do Espírito Santo de Deus. Há uma necessidade de vibração, mas sem qualquer ligação com o Pentecostalismo. O importante é que podemos vibrar, pois conhecemos a Deus e estamos plenos de seu Espírito. Esta é a condição pessoal de sucesso na proclamação. Um homem pode derrubar a importância do que ele prega, tanto quanto ser capaz de pregar com entusiasmo. Se um homem não é tocado pela graça maravilhosa de Cristo em sua própria alma, por certo ele falará de forma fria e vazia acerca da mais tremenda realidade.  

     E se um homem não for fervoroso de espírito, certamente discursará a respeito da salvação como se ela fosse um assunto de pequeno interesse. Este enchimento ou plenitude do Espírito Santo se alcança através da busca da pureza e da santidade. Quando o pregador começa a buscar a Deus, a primeira reação é a noção de pecado. A entrada na presença de Deus permite que o Espírito Santo inicie uma operação limpeza onde os pecados são revelados, confessados, perdoados e abandonados. E a comunhão com o Espírito Santo se torna íntima e o desejo de conhecer a Deus mais intenso. 

       O pregador cheio do Espírito Santo prega com entusiasmo aquilo que ele crê, sua mensagem toca os corações dos que o ouvem e lhes permite aplicá-la às suas vidas. Nestes tempos de provas a necessidade sentida é exatamente de pregadores que abram os seus corações e permitam ao Espírito Santo de Deus aquecê-los, dando-lhes zelo, entusiasmo e paixão, pois um pregador sem entusiasmo não fará muito em favor da obra da proclamação do Evangelho. Porém, se o pregador equacionar o entusiasmo com a convicção de que, pelo poder de Deus, tem a fé que vence o mundo, conseguirá falar de uma forma tão fervorosa que não haverá espaços para possíveis contestações. 

       O pregador cheio do Espírito Santo não é um entusiasta ou um artista que encena textos e lhes dá vida. O seu entusiasmo é natural, sem exageros, pois reflete genuinamente aquilo que a mensagem proclamada tem feito na vida do próprio pregador, e envolve os ouvintes que por sua vez sentem o desejo de experimentá-la na extensão de sua eficácia. O pregador eficiente depende de sua relação com o Espírito Santo que lhe proporciona a inteligência necessária, a convicção bem dosada, a alma devidamente aquecida pela paixão em relação aos perdidos, e a dedicação constante no ato de proclamar a mensagem. 
 

III – Um Terceiro Recurso Para uma Proclamação Eficaz é Preparar Bem Suas Mensagens. 
 

       Uma boa mensagem precisa de tempo hábil para ser preparada de modo que este tempo capacite o pregador. Uma mensagem bem preparada contextualiza a Bíblia atendendo as necessidades do povo. E para tanto o pregador deve conhecer a vida do povo. O ofício de atualizar a mensagem reflete a capacidade do pregador em transmitir as verdades eternas do Evangelho dentro de níveis alcançáveis segundo a realidade de cada povo em cada época. 

       Stafford North em seu livro Pregação: homem e método, diz o seguinte: “todo homem deve levar para o seu trabalho certo equipamento básico. O campeão de pulo deve ter pernas ágeis, o violinista dedos hábeis, o estivador braços robustos, e o salva-vidas olhos argutos”1. A cultura não é tudo mais um pregador fiel e dedicado no preparo de seus sermões será muito útil para a causa de Deus, se cuidar também de seu preparo intelectual. Desde que o trabalho do pregador é praticamente mental, ele precisa ter facilidade para aprender idéias e retê-las. Mas nenhum pregador que não goste de estudar poderá alcançar sucesso. 

       O pregador precisa, pois como porta-voz do Senhor Deus se apropriar de tal tarefa, saltando com pernas ágeis os montes da preguiça, dedilhando e folheando as páginas do saber a fim de que levante os braços da competência e com os olhos espirituais enxergue os momentos certos e as mensagens apropriadas. O pregador não deve ser apenas acima da média quanto à sua capacidade mental, mas deve interessar-se pelas pesquisas intelectuais. Sua mente é a sua ferramenta básica, e ela deve ser suprida com amplo conhecimento e ajustada com uma compreensão perceptiva da Palavra de Deus, de modo que lhe seja possível comunicar bem a mensagem ao receptor. 

       A boa comunicação, utilizando-se dos métodos escolásticos e vivenciais, surge como um grande requisito para que o pregador seja entendido quando fala. Uma boa mensagem implica o bom uso da voz e também a utilização correta do veículo de comunicação, a linguagem, de modo correto. Uma boa mensagem se destina a toda a comunidade e nunca a uma pessoa somente. Uma boa mensagem não é bonita e sim tocante. Não é composta de plástica e formas agradáveis, mas de poder espiritual. Não é proclamada para distrair cérebros, mas transformar vidas. O pregador deve construir uma boa mensagem de joelhos e não nos joelhos. A oração é a ligação que podemos ter com o canal ilimitado de experiências com Deus e por certo inspirações valiosas.

B – O Conceito Bíblico de Pregação

 
 

     “A pregação é aquele processo único pelo qual Deus, mediante Seu mensageiro escolhido, se introduz na família humana e coloca pessoas perante Si, face a face. Sem essa confrontação a pregação não é verdadeira”2. Já no pensamento de Blackwood pregação significa “verdade divina através da personalidade ou a verdade de Deus apresentada por uma personalidade escolhida, para ir ao encontro das necessidades humanas”3. A função profética, ou a pregação, é um serviço oferecido a Deus e revelado na prática de anunciar a vontade, o amor e o zelo de Deus pelo seu povo.  

     Dentre as tarefas que caracterizam o ministério pastoral, na perspectiva e realidade batista brasileira, a função de proclamar a palavra de Deus é prioritária. Com este alvo no coração ingressei, pela graça de Deus, nas lides pastorais em 1991. Ao fazer uma retrospectiva percebo que muitas foram às horas gastas nesta tarefa, mas também descubro que um número bem maior de horas foram utilizadas para outras tarefas administrativas, denominacionais e eclesiásticas. Isto sempre me incomodou, pois estou consciente que o Ministério da Palavra é basicamente caracterizado pela proclamação da palavra de Deus. Talvez a razão de sermos tão atarefados por nossas igrejas ou de buscarmos como polivalentes o envolvimento em várias áreas é a ausência de uma convicção clara sobre a importância da função profética no ministério pastoral.  

     E na ausência desta convicção perdemos a perspectiva divina de prioridades e não executamos bem o nosso ministério. Os apóstolos quando do crescimento da igreja viram-se atarefados e estabeleceram prioridades, delegando responsabilidades(Atos 6:1-7). E nós por que não seguimos este belo exemplo? Desejo construir no seu coração a certeza de que ainda hoje o Senhor que nos chamou para o Ministério da Palavra quer que a proclamação de Suas verdades seja uma função que realizemos com todo o nosso esforço e que obedeça as Suas próprias prioridades.  

       Pretendo fazer com que você reflita sobre o tempo em que vivemos, repleto de pregoeiros que entitulam-se “profetas” e que nada têm a ver com esta sublime tarefa. Penso também em ajudá-lo a fazer do seu ministério profético algo estimulante para você, prático para os seus ouvintes e que produza glória, honra e louvor a Deus. Desejo que esta abordagem produza uma confrontação do movimento “profético” atual com a Palavra de Deus afim de que seja possível compreender o que significa falar de fato em nome de Deus. Creio que isto lançará luz sobre o povo de Deus para que este não se permita ser conduzido por “profetas” não autorizados a falar em nome de Deus, uma vez que não O conhecem, não O servem, nem proclamam Sua vontade. 
 

A – A Etmologia e Sua Implicações 

     Compreender o significado das palavras é base fundamental para que o processo de ensino-aprendizagem se realize. Nesta etapa da pesquisa empreenderemos esforços neste sentido e por isso o desafio a não depender somente das informações esboçadas aqui. Busque uma ampliação de seus conhecimentos e lembre-se o aprendizado está disponível e as fontes primárias ou não são diversas. 

Profeta = aquele que não fala a sua própria mensagem, ele age conscientemente, tem liberdade dentro de certos limites de apresentar a mensagem conforme lhe convém. “O profeta é para Deus o que Arão era para Moisés, quer dizer, o seu porta-voz ou mensageiro aos terceiros”4.

   

Navi = é a palavra hebraica mais usada para designar a pessoa do profeta ou sua função e significa profetizar, chamar ou proclamar(ativo).  Ser  profeta  e  ser  chamado  para  proclamar(passivo). É bom lembrar que várias figuras na história de Israel receberam o título de navi como por exemplo: Abraão(Gênesis 20.7); Moisés(Deuterômio 34.10) e Arão(Êxodo 7.1).  

Roeh = vidente. O profeta é também conhecido como aquele que vê aquilo que outras pessoas não vêem. Em 1 Samuel 9.9 encontra-se um auxílio para que seja feita uma distinção entre Navi e Roeh ou Rozeh. “O vidente tem a capacidade de revelar segredos ocultos e eventos futuros. No caso dele, ressaltam-se as visões, ao passo que no caso do profeta, enfatizam-se as palavras(Isaías 30.10)5. 

Isha Elohim = “homem de Deus”. Este título expressa a estreita associação da pessoa com Deus. Esta “estreita relação dos profetas com Deus é expressa  igualmente  pelo nome ‘homem de Deus’, que quase só aparece nas narrativas sobre  Samuel,  Elias  e Eliseu(ver 1 Samuel 2.27; 9.6;  2 Reis 17.18; 4.9)”6.

    

     Podemos resumir esta etapa usando as palavras de Brown: “O profeta do Antigo Testamento é um proclamador da Palavra, a quem Deus vocacionou para advertir, para exortar, para consolar, para ensinar e para aconselhar; tendo vinculações exclusivamente com Deus, desfrutando, portanto, de uma liberdade que não tem igual”.7 No Antigo Testamento o pregador era profeta (navi). Assim, o profeta era o homem que se sentia chamado por Deus para uma missão especial, em que a sua vontade se subordinava à vontade de Deus, que lhe era comunicada por inspiração direta. Embora o pregador seja no máximo um “vaso de barro”, por meio do qual Deus se revela a outros, é, não obstante, o ponto vivo de contato entre Deus e aqueles que Ele procura salvar “pela loucura da pregação”(1 Coríntios 1.21).  

       De acordo com a ótica neotestamentária o profeta é aquele que, movido pelo Espírito de Deus, recebe e transmite por inspiração divina a mensagem do Senhor ao povo, especialmente as verdades relacionadas com o Reino de Deus e com a salvação dos homens, o profeta é aquele que fala por outro, todos os mensageiros de Deus são profetas, mas este dom ministerial, de que o apóstolo Paulo fala, não pertence a todos os mensageiros de Deus. O ministro-profeta deve interpretar a presença de Deus nos eventos que acompanham o Evangelho, e os desígnios de Deus nos eventos.  

O profeta, neste sentido, é o pregador que compreende claramente a beleza e a universalidade do Evangelho e tem o dom de apresentá-lo ao povo com tanta persuasão, tanto amor e zelo que os ouvintes entendam que ele não é apenas um propagandista, mas o expoente divinamente autorizado para esclarecer os eventos que acompanham os efeitos da mensagem do Evangelho, não somente para o indivíduo como também para a sociedade, para o governo e para as nações.8 
 

     Entendo que o ministro-profeta recebe algumas características dos profetas do Antigo Testamento. Por isso creio como ministros devemos ser profetas de nosso tempo. Vivendo a realidade de cada dia, sacudindo a morosidade e o conformismo, e evitando que a igreja, agente beneficiador de Deus aos homens, caminhe doente e inoperante. A missão profética deve resumir-se numa prática ministerial condizente com as necessidades do povo em cada contexto e circunstâncias em que ele se encontre. O profeta defronta-se com as hostilidades, desconfianças e incompreensões. E nenhuma destas dificuldades em hipótese alguma devem servir de meios silenciadores ao reclamo que Deus deseja que exista em nossa boca. 

     Sendo pois o ministério profético constituído dos elementos da pregação e do evangelismo, entende-se que sua ocupação é querigmática. O ministro tem a função primordial de apascentar o povo de Deus. E isto pode ser realizado por intermédio da pregação da Palavra, de seu exemplo pessoal, pela demonstração de afeto pelo povo de Deus, pela criação de circunstâncias que favoreçam o atendimento espiritual ao povo de Deus, pelo uso adequado da autoridade, pelo viver humilde, tornando-se um símbolo da causa a que vem servindo. Sendo assim o pastor evangeliza no púlpito, nos momentos de encontros de aconselhamento, através de palestras e estudos, hospitais, presídios. 
 

B – A Pregação e o Pregador 


 

       Entendemos que condição fundamental para o exercício da proclamação é ser chamado para proclamar. Deus chama, separa, capacita, sustenta e envia o pregador. Nesta relação pregação e pregador aprendemos que existem muitos enfoques que poderíamos contemplar. Creio que também são relevantes na vida pessoal do pregador os aspectos devocional, emocional, conjugal e social. 

I – Aspectos de Uma Chamada Divina 


 

     Assim como você, Moisés teve uma chamada divina que mudou o rumo de sua existência(Êxodo 3.1-12). É claro que tal chamada revela-se com características particulares no que tange a situação histórica, motivações e propósitos que precisam ser levados em consideração. O nosso objetivo então é aprender algumas lições desta chamada que podem ser aplicadas às demais que Deus tem feito e fará aqueles que ele deseja usar no cumprimento dos seus propósitos. O primeiro aspecto da chamada divina é que Deus nos chama para um relacionamento pessoal(v.4). Medite por alguns instantes sobre a sua experiência de descoberta de Deus e de sua conversão: que fato ou detalhe você destacaria? Assim como Moisés foi chamado para ter um relacionamento pessoal com o Senhor nós também o fomos. 

       Se por um lado a chamada é divina, por outro ela é pessoal. Deus se revela a Moisés e o chama pelo próprio nome. Do meio da chama que não consumia o espinheiro, Moisés ouviu a voz de Deus que o chamou pelo nome duas vezes. Esta insistência em chamá-lo pelo nome denota urgência. Moisés é desafiado a manter-se numa posição de reverência diante da presença e da revelação que o próprio Deus fizera de si mesmo(v.5), “Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus”(v.6), e este gesto indica que um cristão para ser usado por Deus deve ser reverente para com as coisas sagradas. Irreverência desqualifica e incompatibiliza um homem para ser um instrumento de Deus. 

       Se uma chamada divina é pessoal isto implica que a resposta deve ser pessoal. É claro que no verso 4 Moisés ainda não tinha idéia do que Deus exigiria dele, mas ainda assim ele está disponível ao Senhor dizendo: “eis-me aqui”. Durante o processo da chamada o vemos obedecendo atentamente às instruções divinas. E mesmo quando ele coloca objeções ao chamado dizendo que: 1) não tinha capacidade para confrontar o Faraó(v.11); 2) não tinha crédito diante do povo de Israel(v.13); 3) não sabia falar direito(4.10). Estas contribuem para o fortalecimento das convicções que o levaram a responder a chamada.

 

       O segundo aspecto da chamada divina é que Deus nos chama para uma vida de santidade e temor(vv.5-6). Para Moisés foi dada a ordem de tirar as sandálias. E a nós? O que o Senhor quer que tiremos? Que influência a santificação pode ter no exercício de sua chamada? Se cremos que o Senhor nos chamou para a salvação precisamos adicionar a este o chamado para uma vida de santificação. Que recursos o Senhor coloca a nossa disposição para que alcancemos o nível de santidade ideal? Sim nós somos abençoados porque o Senhor nos deixou a sua Palavra e o seu Santo Espírito. Sim esta Palavra que pregamos turbinada pela unção do Espírito deve exercer sua primeira e maior influência em nós mesmos.  

       Sim amados a chamada divina indica claramente que Deus nos chama para uma vida de temor(v.6). Qual é a perspectiva que você tem acerca do temor de Deus em sua vida? Você é capaz de recordar e mencionar pelo menos um verso bíblico que valorize o temor ao Senhor ou que fale dos benefícios do temor no ministério de um servo de Deus? O autor de Provérbios nos dá uma dica ao dizer que “...o temor do Senhor é o princípio de toda a sabedoria; e o conhecimento do santo é o entendimento”(9.10). Temer é respeitar ou reverenciar a Deus, reconhecendo sua grandeza e santidade. Temer a Deus não quer dizer simplesmente medo de Deus, mas respeito, amor, obediência e adoração a Ele. 

       O terceiro aspecto da chamada divina é que o Deus que nos chama é providencial(v.7). Não cremos em coincidências e sim na providência divina. Deus estava atento às aflições do seu povo cativo e oprimido pelos egípcios. Quis a providência divina que Moisés fosse o homem(instrumento) de Deus para levar adiante a missão(tarefa) de libertar o povo de suas dores e sofrimentos. Isto nos faz lembrar o diálogo de Jesus e os discípulos onde o foco da abordagem era o número insuficiente de obreiros diante de uma seara branca pronta para a colheita(o que parece ser o problema hoje). Qual foi a solução apresentada por Jesus? Os cristãos devem orar, rogar, pedir ao Senhor da seara que envie obreiros. 

       Você é chamado para ser um instrumento através de quem Deus quer providenciar a palavra de consolo, conforto, confronto e salvação para os que carecem do amor divino. Deus providencia os obreiros, os recursos e tudo o que é necessário para que os seus propósitos sejam realizados. Da mesma maneira que Moisés seria um símbolo da providência divina liderando o povo rumo à terra prometida, para Moisés Deus também providencia todos os recursos naturais e sobrenaturais para que este realize bem as tarefas necessárias à sua chamada. Querido irmão, o mesmo Deus que chama providencia, prepara todas as coisas necessárias para o bom andamento da obra.  

     O quarto aspecto da chamada divina é que Deus nos chama com propósitos bem definidos(v.10). Para que Deus tem chamado você? A sua tarefa de anunciar as boas novas é prioritária? Assim como Moisés sentiu-se incapaz é natural que nos sintamos também. Uma coisa é certa nenhum servo de Deus, em qualquer tempo, jamais foi idôneo para a realização da obra para qual Deus o tem chamado. A capacitação vem de Deus, de sua presença e instrução, e do poder que lhe outorga. Jamais deixemos de aceitar um desafio de Deus alegando sermos pequenos e humildes e não termos capacitações. Antes entreguemos nossas vidas em suas mãos. Sejamos apenas instrumentos. Não resistamos. Antes, cumpramos os propósitos divinos em nossas chamadas. 

     Moisés soube desde cedo qual era o propósito de seu chamado. O que ele deveria falar e a quem deveria transmitir as ordens e os decretos divinos. É necessário que tenhamos clareza de pensamento e ação acerca dos propósitos que Deus estabelecido para cada um de nós no que tange ao chamado. Gostaria de propor um exercício: descreva numa sentença o seu chamado. “ O propósito de Deus para a minha vida é................................................................

........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................” 

       O quinto aspecto da chamada divina é que Deus nos chama e nos acompanha em nossos ministérios(v.12). O Senhor não nos abandona no exercício de nossa vocação ministerial. Ele está presente conosco todos os dias até a consumação dos séculos. Como esta certeza de que Deus nos acompanha pode ser útil no exercício da função proclamadora? Não há necessidade de sentirmos medo, solidão, abandono ou preocupação pois Senhor está ao nosso lado. Louvado seja Deus porque nos fortalece, revigora, socorre e auxilia de modo que podemos cumprir com fidelidade o chamado que temos recebido do Senhor. Você e eu não precisamos ter medo dos faraós que surjam em nosso caminho, nem tão pouco dos mares, desertos e perigos. 

       A chamada divina é pessoal, providencial, santa, proposital e garante sua presença ao nosso lado. É bom que saibamos que de uma maneira ou de outra os propósitos do Senhor são realizados. Se rejeitamos o seu chamado os maiores prejudicados somos nós mesmos. Se porventura o atendermos tenhamos em mente de que seremos apenas instrumentos. Deus é quem faz a obra e o único que deve ser exaltado. Não basta conhecer as características do chamado divino é necessário atendê-lo e realizarmos nossa tarefa de modo agradável. Para tanto dependamos da graça de Deus. 
 

II – O Cultivo de Uma Vida Devocional 


 

       Um grande pilar do ministério pastral e especialmente na função proclamadora é o hábito de cultivar uma vida devocional constante e segura. Percebe-se que a necessidade desta vida devocional segura é notada nos conselhos de Paulo ao jovem Timóteo uma vez que ele deveria conservar a sã doutrina de modo que fosse  capaz de defender a comunidade dos ataques dos falsos mestres9. Quando pensamos nos envolvimentos da vida devocional do pregador, somos levados a concluir que o fato de ser chamado pastor ou de ser ordenado, não lhe constituí este santo ofício. 

       É necessário se sentir pastor, ser consciente da missão e seus comprometimentos. Daí a necessidade da existência deste hábito devocional de modo que o mesmo o impulsione e o capacite a ser o líder espiritual e o pregador com  a autoridade do Senhor que age em benefício da comunidade cristã. Sabemos que existem pastores que o são de fato mas não têm o controle ou a liderança espiritual da igreja sobre os seus ombros. Como também cremos que muitos são líderes, pregadores, administradores, educadores e que o cultivo da vida devocional é útil a estes a fim de que sejam fortalecidos pela Palavra do Senhor. 

       A vida devocional constante é útil no processo de alimentar o rebanho. A comunidade deseja ser alimentada espiritualmente e anseia que o seu pastor tenha um conhecimento e contato fidedignos com a grande fonte que é Deus. Quando lançamos os nossos olhares contemplativos para o momento presente percebemos que este é um problema sério, o povo anela por bons ministros e especialmente proclamadores comprometidos com a Palavra de Deus. Esta agravante faz com que o cultivo de uma vida devocional seja realçada e ainda podemos dizer que ela é o bálsamo que recupera as forças e as cargas espirituais do líder que tem como meta alimentar o seu rebanho tão carente e fustigado pelas dificuldades e desafios desta vida. 

       Portanto, deve o pregador cultivar este hábito devocional, lendo a Bíblia devocional e diariamente. Deixando que  o Espírito Santo de Deus fale por meio de sua Palavra no profundo de seu ser. Deixando que esta provoque profusas e profundas transformações. Deve também meditar e ler livros que tragam enlevo espiritual e alento para o seu coração. E como um complemento basilar, a oração que é capaz de permitir um pleno conhecimento de Deus. Sem uma vida de oração é impossível adquirir a maturidade espiritual tão necessária para a liderança espiritual sadia, levando aos pastos verdejantes e as águas tranqüilas, o rebanho de Deus confiado a nós pastores-pregadores. 

       Não preciso dizer que estão são situações que exigem tempo, dedicação e muito esforço por parte dos que aspiram esta excelente obra. As questões e os desafios do ministério devem ser alinhadas mas tendo sempre Deus como prioridade. Você precisa cuidar mais de sua vida devocional? A sua leitura bíblica tem sido tecnicamente para preparar sermões?  E as orações? Quantas vezes elas são dirigidas ao trono da graça para pedir ao Pai misericórdia em face da sua limitação e indignidade de ocupar um púlpito. Você tem um refúgio onde pode desfrutar de tempo e intimidade com o Senhor? Quanto tempo gasto em tarefas e atividades que só tem trazido cansaço e frustrações? É isso aí colega Deus quer que separemos um tempo para o cultivo da vida devocional! Certamente esta semeadura dará os frutos correspondentes? Você crê nisto? Então pratique! 
 

III – O Equilíbrio da Vida Emocional 
 

       Nas suas diversas facetas o ministério do pastor-pregador desencadeia uma série variada de circunstâncias onde são necessárias qualidades emocionais em perfeitos níveis de equilíbrio. Mudanças repentinas podem ocorrer na execução do seu ofício, um exemplo seria celebrar um culto de gratidão por um aniversário e logo em seguida envolver-se com uma atividade do funeral de um irmão que acabara de falecer. Creio que muito dos pastores já tiveram que experimentar este intercâmbio de ambientes e emoções. Como líder o pastor deve procurar se equilibrado emocionalmente. Uma vez que está a frente de pessoas que dependem de sua sensatez, do seu equilíbrio e de sua imparcialidade10. 

       O controle emocional surge então como uma virtude elementar. Cada um se conhece, pelo menos é o que esperamos, mas o líder deve procurar entender os que estão ao seu redor, deve evitar ser acometido de raiva. Em hipótese alguma deve agir sob pressão ou perder a autoridade. Deve ser o líder um homem amoroso e gentil. E como nos necessitamos de nos apropriarmos destas virtudes nos relacionamentos com todos os níveis e classes de pessoas na igreja. A exemplo do Pastor por excelência devemos ser humildes. A humildade só é possível para os que são grandes, pois o objetivo do líder é ser exemplo para os irmãos. 
 

IV – A Harmonia na Vida Conjugal 
 

       A família é o primeiro núcleo social perfeito. A verdadeira célula desse organismo que se chama sociedade. Em seu estado completo de desenvolvimento consta de três sociedade elementares e rudimentares: a sociedade conjugal ou matrimonial, a sociedade paterna, e a sociedade senhorial11. Tenho percebido em nossos dias tantos nos nossos arraiais como no seio de nossa sociedade secular, que esta célula tem sido atacada por uma série de valores absurdos e obsoletos e que, como conseqüência disto, formam-se pessoas despreparadas em todos os sentidos e lançam-se tais seres à vida, como quem lança um frágil objeto contra uma forte onda do mar. 

       É necessário que tenhamos consciência de que estamos enfrentando uma avalanche de conflitos conjugais e o homem-pastor-pregador deve tomar cuidado com a integridade de sua família, dando aos seus queridos, uma boa estrutura amorosa, financeira, social e permitindo assim que o seu lar inspire a vida dos lares que estejam ligados ao seu direta ou indiretamente. Não precisamos reiterar que uma condição bíblica apresentada pelo Novo Testamento é que o pastor deve governar bem a sua casa e assim sendo torna-se apto para administrar, liderar e governar a igreja de Jesus Cristo. O que fazer então neste tempo de tantos lares mal formados ou em situação deplorável? Clamemos ao Senhor pela transformação de nossos lares nos oásis onde muitos observarão e se aproximarão para encontrar o alento. 

     Quando a crise invade a família não resta outra alternativa a não ser a posição correta dos outros membros em atitude de oração e fé, na busca do reequilíbrio espiritual, moral e material do lar em crise. É preciso buscar a harmonia. Reconhecemos que a família como uma instituição, está sujeita à crises e estas fazem parte do plano evolutivo, isto porque não há crescimento de consciência, nem crescimento de dons divinos herdados se não exercitarmos estas crises e dificuldades no meio das contradições e choques de existência, submetendo-se à existência e ao crivo de nosso discernimento. 

       Quando recordamos os moldes bíblicos para o comportamento familiar harmonioso, e estes expressos nos termos do amor sacrificial(maridos), da submissão voluntária(esposas), e da obediência(filhos). Percebemos que tanto o pastor como a esposa e filhos têm responsabilidades a cumprir de modo que a harmonia se efetue e tenham o compromisso com a perpetuidade nos níveis físico, moral, social e espiritual. Entendo que o pastor-pregador jamais deve colocar a sua família em segundo plano. Um outro aspecto é que a sua família ditará os moldes de comportamento para as demais famílias da igreja. A sua família precisa de amor, dedicação, cuidado, saúde, educação, diversão e tantas outras coisas comuns à vida social. 
 

V – Implicações Éticas de sua Vida Social 
 

       Quando folheamos as noções bíblicas registradas nas epístolas pastorais quanto às implicações éticas da vida social do pastor-pregador somos impelidos a desenhar alguns moldes desse relacionamento. Estas noções podem ser divididas em relação aos níveis diferentes de pessoas e classes sociais. Deve o obreiro ter condições de relacionar-se com os idosos, respeitando-os e tendo amor nas exortações e cuidado. Semelhantemente com as viúvas cuidando de fazer as distinções e aplicações dos princípios cristãos e filantrópicos que dizem respeito ao trato e ao cuidado com esta classe tão marginalizada. 

       Deve manter uma certa eqüidistância entre as classes evitando preferir uns mais do que os outros. Cuidar para que nas situações de zelo pastoral, aconselhamento e proclamação não se envolva também nas emoções e sentimentos pessoais de modo que não sofra calúnias ou injúrias de ordem moral. Deve tratar a todos com distinção. No relacionamento com os jovens e as crianças temos a incumbência de ser exemplo fiel e digno da estatura de varão perfeito, aprovado, objetivando inspirar e direcionar às suas vidas. É importante manter um bom relacionamento com os vizinhos da igreja de modo que inspiremos confiança e credibilidade. O pastor-pregador precisa ser um exímio conhecedor de sua comunidade interna(igreja) como também de sua comunidade externa(moradores das regiões circunvizinhas) e deste modo ter condições de aplicar à palavra as reais necessidades do povo. 

       O pastor-pregador que exerce uma liderança e ministério equilibrados pode elevar e muito o conceito que as cadeias sociais maiores e mais complexas porventura tenham. Num tempo repleto de maus exemplos de atuação pastoral, somos obrigados a recuperar a imagem denegrida de uma missão excelente. O pastor-pregador-cidadão tem a obrigação de cumprir com os seus deveres e encargos sociais e levar a igreja a agir de modo que seja irrepreensível na sua conduta. Desde a sua família, até o mais complexo grupo social o seu comportamento ético e social deve ser o mais ajustado possível. Pois como líder espiritual e proclamador da Palavra de Deus precisa ser um bom exemplo a ser seguido. 
 
 

C – A Pregação e a Palavra 

          A Bíblia foi escrita por 40 homens, aproximadamente.  Esses homens eram especiais apenas num sentido: foram ajudados pelo Espírito Santo a escrever as palavras de Deus.  Essa é a razão porque, apesar de ter sido escrita por homens, a Bíblia é chamada a "Palavra de Deus”. De acordo com 2 Pedro 1.21, houve alguém que motivou os homens a escreverem a Palavra de Deus. Algumas vezes o Espírito Santo disse ao escritor exatamente o que ele deveria escrever. Leia, a propósito, Jeremias 36.  O verso 2 ordena: "Toma o rolo dum livro, e escreve nele todas as palavras que te hei falado contra Israel......”. Ao ler Lucas 1.3 e Apocalipse 1.1-11, percebe-se que o escritor foi guiado a buscar e a instruir-se, através do Espírito Santo, de tudo que deveria escrever.  Isso implica dizer que Deus atuou de varias maneiras, a fim de que a sua mensagem fosse revelada ao Homem. 

       A Bíblia é a palavra inerrante de Deus. “O efeito mais excelente da inspiração é a assim chamada inerrância da Sagrada Escritura. Esta qualidade segue-se necessariamente ao conceito de Inspiração”12. Inerrante assim como infalível são duas palavras usadas para definir a doutrina da Inspiração. O que estas palavras comunicam está intimamente ligado ao pensamento do autor e do leitor13, ou seja, os conceitos precisos ou os desajustes sobre inerrância surgem da compreensão do sentido das palavras. Inerrância denota a liberdade de divagação ou afastamento da verdade 14. Viertel cita Young que define a inerrância das Escrituras afirmando que “cada asserção da Bíblia é verdadeira, quer a Bíblia se refira ao que se deve crer(doutrina) ou como devemos viver(ética), ou se narra acontecimentos históricos”15. 

       O conceito de inerrância que predomina entre os que discutem este tema nos faz compreender que a “inerrância só é própria as afirmações, aos juízos, do autor inspirado, e não a tudo que se encontra de qualquer maneira na Bíblia”16. Uma vez que a verdade divina na Bíblia nos é transmitida por homens, os quais, embora estando sob o influxo da inspiração divina, permaneciam homens de seu tempo; e é somente através desta realidade humanamente condicionada que nos é possível ter acesso à verdade de Deus17. Gosto da definição sobre inerrância do ICBI: “sendo total e verbalmente dada por Deus, a Escritura é sem erro ou defeito em todo o seu ensinamento, não o é menos com respeito ao que diz sobre os atos de Deus na criação, sobre os eventos da História humana, e sobre suas próprias origens literárias, do que no seu testemunho da graça divina de Deus na vida dos indivíduos”18. 
 

I – O Valor da Palavra de Deus  

       Não estou preocupado nesta abordagem com as informações técnicas, quero abrir o meu coração e dizer que creio na Bíblia como a Palavra de Deus que não falha, que transforma, que edifica, que corrige, que instrui para a salvação. Uma vez que a palavra de Deus (Escrituras) é perfeita o seu papel na capacitação do homem perfeito é central. Meu desejo é destacar algumas implicações desta perfeição das Escrituras na construção do homem de Deus preparado para toda a boa obra à luz do raciocínio do apóstolo Paulo em 2 Timóteo 3.4-17. Como seria se Deus não falasse? Creio que muitas das dúvidas que tinha antes de conhecer a Bíblia ainda permaneceriam me incomodando. Aprendi a ler com cinco anos e já nesse período tive acesso às informações contidas nas Sagradas Escrituras. O cristianismo existe por causa das verdades reveladas na Bíblia. Neste livro Deus comunica todas as revelações necessárias para se alcançar a salvação e a maturidade cristã. 

  1. A Palavra na Formação do Caráter (vv.14-15).

 
 

       De posse destes versos quais foram as fontes de influência na formação do caráter de Timóteo? Os filhos necessariamente não se convertem só porque aprendem as Escrituras. É necessário andar próximo do Deus da Palavra; é necessário cultivar o hábito de valorizar e amar o Senhor; é necessário praticar os ensinos bíblicos. O valor da palavra foi sedimentado na vida do jovem Timóteo pelo modelo de cristão marcado na vida de sua mãe. O caráter do Jovem Timóteo deveria ser marcado por que tipo de fé? Sim ele e nós precisamos de um fé genuína, autêntica, sem falsificações. Daí para que o caráter cristão seja formado em nos faz-se necessário constante perseverança e aplicação. 

     A fonte de formação divina no caráter cristão deve-se ao fato de que o autor das Escrituras é Deus e elas estão impregnadas de conceitos e ensinos que marcam o caráter divino. Como é o caráter de Deus? Este Deus reto e santo pretende conduzir-nos a obediência pois sabe que em obedecê-lo recuperaremos o tempo e as oportunidades perdidas em conseqüência do pecado. Você sabe o significado do nome Timóteo? Este nome significa “que honra a Deus” e a vida deste irmão nos mostra que ele fez jus ao nome. O conselho dado é de que a formação do caráter está intimamente ligada ao permanecer no padrão estabelecido na Palavra de Deus. A palavra padrão (hupotupósis) denota um esboço geral ou planta usada por um artista, ou, na literatura, o rascunho que forma a base de uma exposição mais plena. A orientação recebida era que Timóteo deveria agarrar-se firmemente ao modelo da verdade que tanto Paulo quanto a sua avó e sua mãe lhe haviam ensinado, especialmente no tocante à fé e o amor que Jesus Cristo lhe oferece. 

     O cristão que reconhecendo o valor da inerrância das Escrituras desejar ter o seu caráter bem formado por ela não pode abrir mão da Iluminação produzida pelo Espírito Santo e ao estudá-la deve contar com esta parceria espiritual, além do que deve também desenvolver um constante trabalho de análise do seu próprio viver de modo que sua vida não se desvie do perfil desejado por Deus. E esta análise demanda coerência, concordância, esforço, zelo, cuidado, daquele que tem o propósito de honrar ao Senhor na totalidade da sua existência. “Paulo refere-se ao Antigo Testamento, uma vez que o Novo Testamento recém começava  a ser escrito, e somente no final do primeiro século da era cristã começaria a ser reconhecido como Escritura. Mas, ainda que Paulo faça estas colocações em relação ao Antigo Testamento, elas também valem para o Novo Testamento, pois os apóstolos falaram movidos pela mesma submissão ao Espírito de Deus(2 Coríntios 2.17; 4.1; 2 Pedro 1.16-21).”19 

2. A Natureza das Escrituras (v.16). 
 

       O que o verso 16 diz sobre a natureza das Escrituras? Se por um lado o verso em questão ao mencionar a expressão “toda Escritura” faz alusão aos livros do Antigo Testamento. O Cânon20 nos permite, pela graça de Deus, considerar também os preceitos dos livros do Novo Testamento. O Cânon é fundamental para a nossa fé. Inspiração = Autoridade = Proclamação Autorizada. Se o homem não é capaz de crer na natureza divina das Escrituras, como se submeterá aos seus ensinos? Ainda que Deus tenha utilizado homens para o registro de sua revelação isto não diminui o valor nem a autoridade da mesma. Os que argumentam contra a inerrância defendem que o “homem é falível, logo o que ele escreve é falível”21; não vejo dificuldades no fato de homens (aproximadamente 40)terem sido instrumentos na transmissão das verdades e vontade eterna de Deus.  

       A inspiração sugere que a Bíblia é a mensagem de Deus para todas as pessoas. A humanidade pode experimentar a benéfica realidade da transformação oferecida por Deus através da aplicação dos princípios bíblicos no viver cotidiano. Então, homens e mulheres, jovens e crianças estão ao alcance das Escrituras assim como elas estão ao alcance deles também. Uma vez que a Bíblia é a mensagem de Deus para a humanidade aplica-se sobre os que a conhecem a responsabilidade de conduzir outros ao mesmo conhecimento. Você está envolvido em algum programa de ensino da palavra a alguém? Que método você está usando? Qual semeadores de esperança devemos espalhar a boa notícia que Deus tem preparado para a humanidade. A Bíblia distingue-se de todas as demais obras literárias por ser transparente e preciosa: sua denúncia desmascara indistintamente a todos, inclusive os próprios escritores bíblicos22. 
 

  1. A Utilidade das Escrituras (v.16).

 
 

       Qual a utilidade das Escrituras em sua vida? A utilidade das Escrituras é desenvolvida neste verso em pelo menos quatro dimensões que veremos mais adiante. “A escritura é tal baliza para a salvação, porque sua procedência é peculiar. Paulo afirma que toda Escritura é inspirada por Deus”23. Mais uma vez quero destacar que a utilidade das Escrituras está intimamente ligada ao conceito de inerrância. Se o leitor crê de fato que a Bíblia é a palavra infalível de Deus está apto então a desfrutar ou submeter-se ao crivo da utilidade das Escrituras em sua vida. Você crê que a Bíblia é a palavra infalível de Deus? No meu modo de avaliar este verso a utilidade das Escrituras no permite considerá-la como agente de transformação: 

     No ensino da verdade = didaskalia = o ensino só acontece quando há uma mudança de comportamento. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamentos são pastoravelmente úteis para o ensino, como fonte positiva da doutrina cristã. Na Grande Comissão temos uma tarefa(Mateus 28.18-20).  Sim a tarefa consiste em ensinar os novos discípulos de Jesus a guardar tudo o que os discípulos já maduros têm aprendido do Mestre. O ministério pastoral deve ter a finalidade de ensinar a viver a vida. 

     Na Convicção do pecado = repreensão = elenromai = a Escritura tem a capacidade de convencer-nos de que somos pecadores. À luz de João 16 compreendemos que o Espírito Santo, agente da inspiração, exerce um ministério sobre nossas vidas. Que ministério é esse? Sem a ajuda da Palavra eu não posso ser um bom cristão(Hebreus 3.13). A idéia desta etapa é que as Escrituras são úteis porque refutam o erro e repreendem o pecado24. 

     Na Correção de Erros = Eis o milagre de corrigir pessoas. Eis a tarefa de colocar o trem novamente nos trilhos. A correção envolve reparar, consertar erros, colocando em ordem a nossa casa. A Bíblia nos mostra como podemos nos corrigir: à luz do verso 14 a idéia é de permanecer ou voltar ao padrão aprendido com Jesus. Para a correção ocorrer com mais precisão é necessário aplicar a Bíblia onde há feridas. Correção ocorre e existe “para convencer os mal orientados dos seus erros e colocá-los no caminho certo outra vez”25. 

     Na Educação da Justiça = Instruir = Educar = paideia. Tornar um filho com as mesmas qualidades que o pai tem. Você é filho de Deus? As qualidades de Deus são encontradas na sua vida? A Bíblia existe para que nos melhoremos o nosso comportamento. A maioria dos cristãos continuam ignorantes da palavra de Deus. O crescimento no conhecimento da palavra de Deus leva a sabedoria. Aí o homem amadurece para a salvação e a fé torna-se profunda